terça-feira, 25 de agosto de 2009

A comunidade dos homens (aos 1º e 2º anos)

Seguindo nos assuntos sobre socialização, foi realizada uma leitura e reflexão sobre o texto a seguir:


A comunidade dos homens

O homem é um ser que fala; é um ser que trabalha e, por meio do trabalho, transforma a natureza e a si mesmo.

Nada disso, porém, será completo se não enfatizarmos que a ação humana é uma ação coletiva. O trabalho é executado como tarefa social, e a palavra toma sentido pelo diálogo.

Nem mesmo o ermitão pode ser considerado verdadeiramente solitário, pois nele a ausência do outro é apenas camuflada, e sua escolha de se afastar faz permanecer a cada momento, em cada ato seu, a negação e, portanto, a consciência e a lembrança da sociedade rejeitada. Seus valores, mesmo colocados contra os da sociedade, se situam também a partir dela. A recusa de se comunicar é ainda um modo de comunicação...

O mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por outros, de modo que, ao nascer, a criança encontra o mundo de valores já dados, onde ela vai se situar. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de sentar, andar, correr, brincar, o tom da voz nas conversas, as relações familiares, tudo enfim se acha codificado. Até na emoção, que pareceria uma manifestação espontânea, o homem fica à mercê de regras que dirigem de certa forma a sua expressão. Podemos observar como a nossa sociedade, preocupada com a visão estereotipada da masculinidade, vê com complacência o choro feminino e o recrimina no homem.

O próprio corpo humano nunca é apresentado como mera anatomia, de tal forma que não existe propriamente o "nu natural": todo homem já se percebe envolto em panos, e portanto em interdições, pelas quais é levado a ocultar sua nudez em nome de valores (sexuais, amorosos, estéticos) que lhe são ensinados. E mesmo quando se desnuda, o faz também a partir de valores, pois transgride os estabelecidos ou propõe outros novos.

Todas as diferenças existentes no comportamento modelado em sociedade resultam da maneira pela qual os homens organizam as relações entre si, que possibilitam o estabelecimento das regras de conduta e dos valores que nortearão a construção da vida social, econômica e política.

Considerando isso, como fica a individualidade diante da herança social? Há o risco de o indivíduo perder sua liberdade e autenticidade. É o que Heidegger, filósofo alemão contemporâneo, chama de "mundo do man" {man equivale em português ao pronome reflexivo se ou ao impessoal a gente). Veste-se, come-se, pensa-se, não como cada um gostaria de se vestir, comer ou pensar, mas como a maioria o faz. Os sistemas de controle da sociedade aprisionam o indivíduo numa rede aparentemente sem saída.

Entretanto, assim como a massificação pode ser decorrente da aceitação sem critica dos valores impostos pelo grupo social, também é verdade que a vida autêntica só pode ocorrer na sociedade e a partir dela. Aí reside justamente o paradoxo de nossa existência social, pois, como vimos, o processo de humanização se faz pelas relações entre os homens, e é dos impasses e confrontos dessas relações que a consciência de si emerge lentamente. O homem move-se, então, continuamente entre a contradição e sua resolução.

Cabe ao homem a preocupação constante de manter viva a dialética, a contradição fecunda de pólos que se opõem mas não se separam, pela qual, ao mesmo tempo em que o homem é um ser social, também é uma pessoa, isto é, tem uma individualidade que o distingue dos demais.

Portanto, a sociedade é a condição da alienação e da liberdade, é a condição para o homem se perder, mas também de se encontrar. O sociólogo norte-americano Peter Berger usa a expressão êxtase (ékstasis, em grego, significa "estar fora", "sair de si") para explicar o ato possível de o homem "se manter do lado de fora ou dar um passo para fora das rotinas normais da sociedade", o que permite o distanciamento e alheamento em relação ao próprio mundo em que se vive.

A função de "estranhamento" é fundamental para o homem desencadear as forças criativas, e se manifesta de múltiplas formas: quando paramos para refletir na vida diária, quando o filósofo se admira com o que parece óbvio, quando o artista lança um olhar novo sobre a sensibilidade já embaçada pelo costume, quando o cientista descobre uma nova hipótese.

O "sair de si" é remédio para o preconceito, o dogmatismo, as convicções inabaláveis e portanto paralisantes. É a condição para que, ao retomar de sua "viagem", o homem se tome melhor.


(Texto extraído do Livro Filosofando, introdução à filosofia, de Maria L. A. Aranha e Maria H. P. Martins)



Cultura e humanização (aos segundos anos)

Para a primeira aula pós-férias nas turmas de segundo ano, retomei um dos principais assuntos discutidos no 1º semestre, que foi "cultura e diversidade".

Com esse assunto, foi priorizado uma abordagem sobre as características multiplas do homem em sociedade; de como ele recebe influências sociais que transparecem nas mínimas ações realizadas; uma abordagem que tentou evidenciar que, a Cultura que carregamos, não nasceu e transcorreu por si só, mas depende do Espaço social de que você usufrui e vive, depende das relações e valores que você acrescentará pra si, no decorrer de sua trajetória...

Enfim, para o 3º bimestre, focaremos mais a abordagem, buscando problematizar este ser que integra e realiza esse "social".
Sendo assim, iniciamos nossas reflexões a partir do texto:


Cultura e humanização

As diferenças entre o homem e o animal não são apenas de grau, pois, enquanto o animal permanece mergulhado na natureza, o homem é capaz de transformá-la, tomando possível a cultura. O mundo resultante da ação humana é um mundo que não podemos chamar de natural, pois se encontra transformado pelo homem.

A palavra cultura também tem vários significados, tais como o de cultura da terra ou cultura de um homem letrado. Em antropologia, cultura significa tudo que o homem produz ao construir sua existência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores materiais e espirituais. Se o contato que homem tem com o mundo é intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos elabora- dos por um povo em determinado tempo e lugar. Dada a infinita possibilidade de simbolizar, as culturas dos povos são múltiplas e variadas.

A cultura é, portanto, um processo de autoliberação progressiva do homem, o que o caracteriza como um ser de mutação, um ser de projeto, que se faz à medida que transcende, que ultrapassa a própria experiência.

Quando o filósofo contemporâneo Gusdorf diz que "o homem não é o que é, mas é o que não é", não está fazendo um jogo de palavras. Ele quer dizer que o homem não se define por um modelo que o antecede, por uma essência que o caracteriza, nem é apenas o que as circunstâncias fizeram dele. Ele se define pelo lançar-se no futuro, antecipando, por meio de um projeto, a sua ação consciente sobre o mundo.

Não há caminho feito, mas a fazer, não há modelo de conduta, mas um processo contínuo de estabelecimento de valores. Nada mais se apresenta como absolutamente certo e inquestionável.
É evidente que essa condição de certa forma fragiliza o homem, pois ele perde a segurança característica da vida animal, em harmonia com a natureza.

Ao mesmo tempo, o que parece ser sua fragilidade é justamente a característica humana mais perfeita e mais nobre: a capacidade do homem de produzir sua própria história.



(Texto extraído do livro "Filosofando, introdução à filosofia", de Maria L. A. Aranha e Maria H. P. Martins)

(T




terça-feira, 18 de agosto de 2009

Movimentos sociais na Europa do século XIX (aos terceiros anos)

Voltando das férias hoje, retomei alguns assuntos já discutidos com meus alunos de terceiro ano...
Como exposto em aula, os conteúdos do 1º semestre giraram em torno da discussão sobre cidadania e deste conceito refletido e relacionado a partir da realidade do sistema capitalista.

Dando sequência, avançaremos os conteúdos levando em consideração outro "eixo" de trabalho, que será "Movimentos e lutas sociais".

Como prévia para as próximas discussõe, lemos o texto abaixo:




Movimentos sociais na Europa do século XIX

CLAUDIO B. RECCO

Durante o século 19, a sociedade européia conheceu um forte processo de organização política --o que deu maior consistência às lutas sociais.

Nesse período, a burguesia se tornou a classe social hegemônica, alcançando o poder em diversos países, fato que permitiu a expansão do capitalismo.

As Revoluções Liberais que ocorreram no continente tiveram repercussão também no Japão e na América, em particular nos Estados Unidos.

Em 1830, diversas revoluções varreram o continente europeu e foram responsáveis pela eliminação definitiva do Antigo Regime na França e pela independência da Bélgica. Os dois países tornaram-se monarquias constitucionais, em que a alta burguesia adquiriu papel preponderante no Estado, e deram início ao processo de industrialização. Em outros países, os movimentos sociais que pretenderam a independência ou a unificação foram abortados pela repressão.

Em 1848, novas revoluções ocorreram. Em seu conjunto, foram denominadas Primavera dos Povos, pois contaram com grande participação das camadas populares, em parte influenciadas pelas idéias socialistas. No entanto a ideologia predominante e que comandou os movimentos do período foi o liberalismo.

Apesar de ter sido uma grande "onda revolucionária", o liberalismo produziu transformações significativas na França, com a proclamação da 2ª República e a formação de um governo de coalizão com a participação de socialistas.

Durante todo esse período, percebemos a luta de outros povos na Europa: os poloneses e os húngaros buscavam a independência frente aos impérios russo e austríaco, respectivamente; alemães e italianos lutavam pela unificação --os alemães, principalmente de forma institucional, liderados pela elite da Prússia, enquanto os italianos, a partir de seus movimentos secretos nacionalistas. Na Inglaterra, a classe operária organizou o movimento cartista, que lutou por direitos políticos e trabalhistas.

Se o operariado passou a se organizar e a participar efetivamente da luta por direitos e diretamente pelo poder, foi a burguesia quem efetivamente passou a controlar o Estado e impôs a sua hegemonia.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Mais do mesmo...

Burocracia toma mais tempo de diretor do que pedagogia

Mais do que salário, violência e espaço físico inadequado, a principal queixa dos diretores da rede municipal de São Paulo é o excesso de burocracia.

A constatação foi feita em pesquisa do Sinesp (sindicato da categoria), que entrevistou em março 373 gestores. Destes, 53% se queixaram que gastam mais tempo com papéis e formulários do que com atividades pedagógicas --reuniões com os professores, por exemplo.



Seguindo nas postagens sobre as mazelas da educação no Brasil, deixo esse trecho de mais uma pesquisa na área em questão...

Quem se interessar pela leitura na íntegra da matéria, só clicar aqui

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Quer dizer que a culpa é só minha?

Opaa!
como vão todos?

Vou confessar que não fiquei triste com as férias prolongadas, apesar de desconfiar da eficiência e necessidade de tal adiamento para o dito "controle da disseminação do influenza A".
Mas enfim, não é por esse assunto que retomo as postagens do blog.

Me "aquecendo" pro retorno às salas de aula, em um dos meus estudos rotineiros, me deparei com uma matéria jornalística sobre as mazelas do ensino brasileiro.
A matéria fazia um comparativo do sistema de ensino de três paises: Brasil, Cuba e Chile.
Numa leitura rápida, o parecer que ela dá sobre nosso sistema não fugiu muito do que ecoa pelos debates da área: o Brasil sofre por ter enormes redes de ensino e por essas redes terem váriados currículos, o que gera desníveis educacionais de uma região para outra, sem contar é claro, com a falta de estrutura geral que os profissionais se deparam ao ingressar no sistema.

Porém, o que me chamou a atenção é que, ao comparar nosso sistema de ensino com o modelo cubano, a matéria termina por nomear grande parte da culpa dos erros brasileiros ao professor e sua precaria formação.
Segundo o pesquisador Martin Carnoy, autor do estudo comparativo, Cuba forma melhor os seus alunos porque seus professores "têm mais domínio da disciplina e têm uma clara ideia de como ensiná-la".

Salvo as claras comparações das dimensões organizacionais de cada país, e as referências que o artigo faz de outros pontos determinantes, como o envolvimento de várias outras instituições sociais que também dividem a responsabilidade da formação educacional dos jovens (Estado, família, escola...), o que se percebe no geral é que a matéria, e aquele que a transmite, tem clara intenção de deteriorar mais ainda a figura do professor.

Logo no início da mesma, em sua manchete, já nos deparamos com tal agressão: "Alunos cubanos são melhores que os brasileiros porque seus professores sabem mais, diz pesquisador dos EUA".
Bom, se o pesquisador aponta várias esferas responsáveis para essa superioridade do sistema cubano, no decorrer da notícia, a pergunta que se faz é: por que uma manchete indicando apenas uma esfera comparativa? e por que essa "culpa" recai de forma mais ferrenha aos professores?

Não é de hoje que nós professores somos atacados enquanto classe profissional e "pagamos o pato" pela falência do ensino brasileiro.
Ataques esses proferidos pela mídia, por propagandas, por políticas educacionais desconectas com a realidade, que ajudam a formar uma opinião pública rasteira e superficial, não levando em conta, como já dito, as raízes do problema.

Estou atuando dentro dessa classe profissional e sei sim que ela deve ser responsabilizada em diversos erros, mas lhe atribuir tal fardo, única e exclusivamente, como vemos nessas ofensivas, traz consequências desastrosas para o andamento de toda e qualquer atitude de mudança pretendida.

Bom, vou largar o mega fone agora e descer do palanque...
Fica por parte de vocês, seguidores do blog e aqueles que vivenciam a realidade, continuarem tal reflexão...




Deixo abaixo o link da notícia e de um vídeo contrapondo a visão simplista e sensacionalista da matéria...



NOTÍCIA
http://educacao.uol.com.br/ultnot/2009/08/10/ult105u8522.jhtm



VÍDEO -Socióloga analisa situação dos professores temporários




PS¹.: O vídeo discute a realidade do sistema paulista de ensino, porém tal ponto de vista pode servir de reflexão para outras realidades de sistemas educacionais, pois problematiza e ressalta diversos fatores de ambito nacional.

PS².: Tanto o vídeo, quanto a notícia foram extraídos do Site Universo On-line - UOL (engraçado né... bate! depois assopra, ou vice-versa)