quarta-feira, 1 de abril de 2009

Problematizando a História

Com o intuito de preparar o terreno para introduzir os temas específicos de cada ano (definidos pelo Estado) na disciplina de Sociologia, aproveitei a data de hoje, 1º de Abril, para trazer aos alunos um histórico sobre a Ditadura Militar no Brasil, já que hoje são 45 anos completos desde o Golpe de 64.

Objetivos específicos a trabalhar posteriormente:
1ºs anos - "Ser-social" e as "Diferenças sociais";
2ºs anos - "Diversidade social";
3ºs anos - "Cidadania" e "Liberdades".


Abaixo, um texto de apoio, breve histórico do que significou o período e seus antecedentes.


Atenciosamente,
Profº Bruno M.
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45 anos de mentira
(por Bruno Muniz)


No "dia da mentira" de 1964, 1º de Abril, o Brasil vivia uma enorme transformação em sua realidade. Após um histórico nacional que trazia uma crise política de instabilidades, em meio a um contexto internacional de Guerra Fria do pós-Segunda Guerra, a sociedade brasileira amanheceu mais pálida, surpreendida, diferentemente confusa.

Após a renúncia de Jânio Quadros da presidência do Brasil, João Goulart, seu vice, assumiu o cargo, porém sua proximidade e abertura às aspirações populares não era bem vista pelas classes dominantes. Jango (João Goulart) era tido como "simpático ao comunismo", obtendo uma fama que nada fez bem a suas pretensões. Adepto de causas populares, dentre as quais, reforma agrária e econômica, Jango ganhou popularidade e fez inimigos.

O ambiente sócio-político mundial em que esta realidade política brasileira estava inserida era um ambiente de hostilidade e medo, pois ao término da Segunda Guerra Mundial, o mundo dividiu-se entre o "capitalismo" e o "vermelho" (o socialismo estatal). De um lado, o lado ocidental, os EUA possuiam a partir de então, a soberania no mundo capitalista. Do outro, ao lado oriental do globo, a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, onde hoje localiza-se a Rússia e outros países do leste europeu e parte da Ásia) era a grande potência política e econômica. A sensação de que a qualquer momento um lado decretaria e, de fato, entraria em conflito com o outro era iminente. Esta insegurança trouxe consigo um medo sobre a expansão, no ocidente, do socialismo soviético, que pareceu justificar-se principalmente no ano de 1959, quando Fidel Castro, ao lado de Che Guevara, Raul Castro, dentre outros, chegaram ao momento final da Revolução Cubana. Tal revolução, apesar de não declaradamente socialista, teve certo apoio (ao menos, a posteriore) dos países socialistas do Oriente. Cuba, como um país latino-americano, representou, então, a chegada das idéias esquerdistas ao "Novo Mundo".

Tais questões uniram-se, como se Jango pudesse, então, ser a possibilidade de um Brasil socialista. Após discurso de Jango em defesa de suas idéias para a transformação da sociedade brasileira, os ânimos se acirraram, e as camadas conservadoras não viram tais idéias com bons olhos. Dias depois, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade é feita, uma marcha que reuniu milhares de pessoas no centro de São Paulo em defesa da moral, da família e da propriedade.

Em 31 de março, tropas militares às ruas, o clima não era mais de mera divergência de opiniões, mas sim, instaurava-se um clima de guerra, de choque entre forças adeptas às idéias de transformação da sociedade brasileira e de idéias de conservação da ordem estabelecida. O que levou às classes dominantes apoiarem (também por medo de um suposto "caos iminente") o que foi conhecido como o Golpe Militar de 64. Não mais uma possibilidade, uma realidade. O temido golpe de Jango, que transformaria o Brasil em país socialista foi dado, mas por outros e com outros fins. Jango, a fim de diminuir as tensões sociais e políticas, de amenizar a sensação de insegurança nacional, decide exilar-se no Uruguai, abrindo caminho, de vez, aos militares.

Em abril, mais precisamente dia 1º de Abril de 1964, o Brasil acordou sob o controle das forças militares, num período que durou até 1985, marcado pela repressão às idéias opositoras, pela perseguição aos "indesejados" (comunistas, socialistas, anarquistas, artistas, homossexuais, estudantes e professores, dentre outros) que de alguma maneira se mostrassem insatisfeitos com aquela realidade, além de outras ações, como exílio forçado, e etc. Um momento histórico que representa mais de 4% de nossa história [1]. Fase em que desaparecimentos, raptos, mortes e o medo eram rotina para o brasileiro.

O "dia da mentira" nunca pareceu tão assustador e confuso antes de 1964.


[1] - Os 4% a que me refiro são os 20 anos de Ditadura Militar com relação aos 509 anos de Brasil, baseando-me na "idade oficial" de nosso país.
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OBSERVAÇÃO
O texto acima não pretende-se como verdade única e absoluta sobre o tema.

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